A raça Charolês é originária da França, mais precisamente de Charolais e Brionais, Departamento de Saône-et-Loire, no Distrito de Charolles. Muito antiga, dela existem pré-históricos na Suíça. Desenvolveu-se na França a partir do século XVIII, como excelente fornecedor de carne e animal de tração. Por ser bovino musculoso, sem tendência a depositar gordura na superfície, sua seleção começou a ser orientada há três séculos.

A melhora da qualidade permitiu, de 1920 em diante, a opção do Charolês unicamente como gado de corte. O aperfeiçoamento de sua estrutura corpórea, espessura da abundante massa muscular, peito profundo, membros longos, favoreceram muito a criação da raça - facilitavam seu deslocamento nas pastagens em busca de água em pontos mais distantes.

Atualmente, 68 países dos cinco continentes e sob os mais variados climas têm no Charolês uma raça privilegiada. Na França, em pouco mais de 50 anos, o plantel de um milhão de cabeças - anotado em 1920 - passou de dois milhões. Em 1989, só as fêmeas já eram um milhão e setecentos mil, no total do seu rebanho. O Herd Book Francês, desde a década passada, concedeu-lhe o primeiro lugar entre todas as demais raças, com grande vantagem sobre o universo de animais registrados.

 

Na África, após excelente adaptação, o Charolês tem sido adotado para cruzamentos industriais, principalmente com gado Brahman. Na Península Ibérica os livros especializados destacam seu grande valor e a alta cotação de sua carne no mercado. Na Rússia, o cruzamento com raças autóctones tem entusiasmado os criadores pelos magníficos exemplares obtidos. Na Grã-Bretanha, a introdução do Charolês foi considerada pelos técnicos um modelo de estudo para implantação, no país, de quaisquer outras raças. No restante da Europa seu nível de aceitação é também muito grande.

Nas Américas, os Estados Unidos e o Canadá oferecem exemplo de rico e selecionado plantel, com posição de destaque nas diversas exposições oficiais. A Argentina dedicou divulgar atenção à raça e hoje já existe inclusive um padrão racial específico, como veremos mais adiante. O Uruguai entra com alto índice de valorização deste gado e o seu rebanho é bastante desenvolvido, tendo considerável influência na formação do plantel brasileiro.

O Charolês chega ao Brasil
No Brasil, a porta de entrada do Charolês foi o Rio Grande do Sul (Veja texto seguinte). De acordo com arquivos da Escola de Agronomia "Elyseu Maciel", da cidade de Pelotas, no ano de 1885 chegaram àquela cidade dois reprodutores Charolês, importados da França pelo governo Imperial. Os dois reprodutores foram confiados a dois estancieiros de renome na época: Heleodoro de Azevedo, Souza e Mancio de Oliveira. Da continuidade daquelas criações não se tem notícias.

No Rio Grande do Sul, o crescimento da raça foi de tal porte que nele vamos encontrar o maior rebanho de Charolês do mundo. Com adeptos em todos os Estados brasileiros, o Charolês chega também ao Norte e Nordeste. A raça foi introduzida no ano de 1962 na Bahia, através de Vitória da Conquista, expandindo-se também a Sergipe, Ceará, Maranhão e Pará.

A formação da linhagem brasileira - bastante utilizada no Centro-Oeste e Nordeste para cruzamento industrial com o Zebu - é resultante de três padrões distintos: o Francês (com animais de maior massa muscular), o Inglês (com gado mais alto, mais comprido, mais moderno) e o Argentino (intermediário entre os dois tipos já citados).

Atualmente, o rebanho Charolês no País está estimado em 100 mil animais PC e 50 mil PO. Suas principais características são a pelagem branca, grande porte, tanto na altura como no comprimento. O Charolês ainda se destaca por sua estrutura óssea e musculatura, excelente rendimento de carcaça e precocidade nos cruzamentos e nos abates.

A História do Gado Charolês no RS
De acordo com os arquivos da Escola de Agronomia "Elyseu Maciel", da cidade de Pelotas/RS, no ano de 1885 chegaram àquela cidade dois reprodutores da raça Charolês, importados da França pelo Governo Imperial.

Os dois reprodutores foram confiados a dois estancieiros de renome na época: Heleodoro de Azevedo e Souza e Mancio de Oliveira. Da continuidade daquelas criações não se têm registros. Atribui-se a importação do Governo Imperial à influência do médico veterinário Mr. Claude Rebougeon. Este técnico francês foi contratado pelo Governo do Império para estudar a localização de uma escola de Agronomia e Veterinária no Rio Grande do Sul.

Na época, Pelotas concentrava todos os estabelecimentos industrializados de carne no Estado: as charqueadas. Por este motivo a região foi escolhida. Não há dúvidas quanto à influência do veterinário francês na importação. Contam os antigos estancieiros da região que o gado branco ou barroso era denominado de "gado Rebourgeon".

No fim do século passado e nos primeiros anos do decorrente, a Sociedade Agrícola e Pastoril, em Pelotas, editava uma revista que tratava de assuntos agropastoris. Muitas vezes, a revista publicava artigos assinados por "Gé de Figueiredo" , ou simplesmente "Gé", que além de assuntos gerais referentes à pecuária, costumava fazer referências elogiosas aos cruzamentos com o Charolês, quando na época, os cruzamentos eram praticados com raças britânicas Hereford e Durham. "Gé de Figueiredo" era o pseudônimo usado por João de Souza Mascarenhas, jovem apaixonado pelos problemas da pecuária, paixão que conservou durante toda vida.

Alguns estancieiros se interessavam pelos comentários de "Gé" , pedindo-lhe endereços de criadores de Charolês. A estes era fornecido o endereço de Anibal José de Souza, brasileiro radicado no Uruguai, com criação há tanto tempo que já produzia touros puros por cruza, no fim do século passado.

Em 1901, "Don" Aníbal enviou a seu sobrinho, João de Souza Mascarenhas, cinco exemplares da raça, todos puros por cruza, sendo quatro novilhas e um tourinho. Na época, João Mascarenhas não era criado, mas comerciante de gado na Estância Capão Alto, no município de Bagé. Por isto, os cinco animais ao seu irmão, Cypriano de Souza Mascarenhas, estancieiro do município de Júlio de Castilhos. Ele estava procedendo cruzamentos do gado comum - "crioulo" ou "franqueiro"- com touros Hereford e Durham, importados do Uruguai. Usou o tourinho Charolês em vacas crioulas. Os produtos obtidos desta cruza apresentavam-se muito mais desenvolvidos do que os obtidos com a cruza das raças inglesas. Em vista do bom resultado obtido com este cruzamento experimental, Cypriano encomendou a seu tio Aníbal dez touros puros por cruza.

A importação ocorreu no ano de 1904, considerada a data da primeira importação de Charolês para o Estado do Rio Grande do Sul. No ano de 1906, Cypriano adquiriu da mesma procedência cinqüenta touros. Em 1910, tendo resolvido utilizar somente reprodutores Charolês em sua estância, encomendou os cinqüenta reprodutores. Neste ano, Don Anibal não criava mais Charolês.

A propaganda das raças inglesas, promovida no Uruguai pelos frigoríficos, todos de firma britânicas, desestimulava a utilização de outras raças. Naquela época, buscavam-se bovinos que produzissem carne com grande cobertura de gordura, que era exigência do mercado consumidor europeu. Esta característica a raça Charolês não possuía. Em vista disto, Cypriano viu-se na contingência de ir buscar reprodutores no país de origem da raça. Para tanto, no ano de 1911, importou da França dois tourinhos. Foi a primeira importação de Charolês promovida por um particular.

No ano de 1913, mais dois tourinhos foram importados pelo mesmo criador, da mesma procedência. Com o advento da Primeira Grande Guerra, as importações tornaram-se impraticáveis. Dois anos após terminada a guerra, em 1918, Cypriano reiniciou as importações, sempre com dois reprodutores. No ano de 1927 foram importadas da França duas novilhas, o que possibilitou a abertura do Herd Book da raça no Brasil. Em 1922, por ocasião da Grande Exposição Nacional, realizada no Rio de Janeiro, promovida pelo Governo Federal, fazendo parte do centenário da Independência Nacional, juntamente com outras comemorações, a França apresentou um plantel de 20 exemplares da raça. Concluída a exposição, o mencionado plantel foi doado pelo governo da França ao Governo Brasileiro.

O plantel foi conduzido a uma estância que o Ministério da Agricultura possuía no Estado de Goiás, provavelmente conhecida como Estância Urutaí. Mais tarde, o plantel foi transferido para a Estação Experimental de São Carlos, em São Paulo, também do Ministério da Agricultura. Em 1931, os animais foram transferidos para Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, que o concentrou no Posto Zootécnico da Serra, em Tupanciretã, atual Estação Experimental Zootécnica daquela cidade. Os animais somavam 31 ou 32 fêmeas de todas as idades. O plantel continuou na referida estação, atualmente constituído por algumas dezenas de exemplares, que prestam bons serviços à criação do Charolês no Estado.

Depois de 1920, diversos criadores importaram animais da raça da França. Entre os pioneiros estavam: Izidro Kurtz, coronel Quinca de Lima, Carlos Gomes de Abreu. Ao se falar na história do Charolês no Estado, impõe-se mencionar um a cabanha que foi, sem dúvidas, a maior difusora da raça no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Tendo inclusive realizado promoções no Uruguai e Argentina. A referência é da Cabanha Santa Marta, de Pacífico de Assis Berni, de Santa Maria.  Fundada em 1954, a Cabanha Santa Marta promoveu inúmeras importações de exemplares da França, vendendo-os em leilões memoráveis. 

Atualmente, o Herd Book Charolês já ultrapassou o número de 250.000 em seus registros. O Charolês no Mercosul A Argentina e o Uruguai criavam Charolês no século passado. Na famosa exposição de Palermo, ainda em 1910, exemplares da raça integraram a mostra. Desta época até 1960, os dois países do Prata deixaram de criá-la.

Após a Segunda Guerra, com a elevação do preço da carne, as donas de casa européias passaram a exigir carne com pouca gordura, pois esta incidia no peso - e portanto no custo, não sendo assim consumida. Por parte dos frigoríficos passou a existir uma corrida em busca de carnes mais magras, a fim de atender exigências da nova demanda. Como as raças britânicas eram e continuam sendo especializadas em produzir carne com grande cobertura de gordura, houve necessidade de se buscar cruzamentos com raças que produzissem carne com menos gordura. Chegara a vez do Charolês.

Raça especializada em produzir grande massa muscular, com pequena capa de gordura, associando sua qualidade à rusticidade e adaptabilidade a uma variedade climática do frio ao subtropical, é a raça indicada para produzir a carne que o mercado atual procura. Em 1960, a Argentina e o Uruguai voltaram a criar Charolês, com excelentes plantéis de pedigree, de origem importada da França. Estão conduzindo muito bem muito bem sua criação de puros por cruza. É notável o que os dois países vem praticando em cruzamentos industriais.

Em 1955, a Inglaterra importou da França sêmen de Charolês, que foi utilizado experimentalmente em vacas de raças leiteiras descartadas. Em vista do bom resultado, no ano de 1961, importou 26 tourinhos. Atualmente, o país possui excelentes plantéis de pedigree, iguais aos melhores da França.



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