01/03/2023

Mais lucro para produtores e frigorífico: Charolês brasileiro agora une rendimento e também acabamento de carcaça

O atual Charolês brasileiro é mais precoce sexualmente e acima de tudo, precoce em termos de deposição de gordura na carcaça (rápido acabamento), fator relevante para uma pecuária de ciclo mais curto.

Por Eldomar Renato Kommers¹ e Nathã Carvalho²

Internacionalmente consagrada como grande produtora de carne, a raça Charolesa difundiu-se por todos os continentes do mundo. Na verdade, muito além de sua vocação como produtora de carne por excelência, ela possui muitas características produtivas e funcionais que facilitam seu desenvolvimento e aceitação entre os pecuaristas. Pelo seu potencial, em condições adequadas é extremamente eficiente e capaz de corresponder com elevada rentabilidade à aqueles que investem em sua genética, tanto na raça pura como principalmente, nos cruzamentos.

Os povos e as nações têm suas características, seus hábitos de se vestir, de se divertir, e também, quanto ao seu consumo de alimentos. A carne bovina não foge disso. Para o Charolês não foi diferente, com a sua origem francesa, o consumo da sua carne segue os padrões europeus, bem diferentes dos nossos no Brasil. Assim, a raça vem sendo selecionada desde sua origem, onde a eficiência em converter o que consome em considerável ganho de peso se tornou um de seus maiores diferenciais.

Os sistemas de criação e engorda dos animais também sofrem influência das particularidades de cada povo e de cada nação. O clima, a topografia, o tamanho de propriedade e os sistemas de manejo são fatores ambientais que influem na atividade. Neste sentido, o Charolês brasileiro precisou contribuir (desde a sua introdução até o fim dos anos 90, em especial) para a elevada demanda local e para os hábitos de consumo de carne do brasileiro. Características do Brasil, como seu tamanho, clima tropical e subtropical, criação basicamente extensiva, grandes extensões de terra e mão de obra muitas vezes inadequada para o manejo (totalmente ao inverso da França), influenciaram no processo de desenvolvimento e disseminação da raça a nível nacional.

Já no início dos anos 2000, alguns criadores com a orientação do corpo técnico da Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC) e também de pesquisadores e professores especializados em bovinocultura de corte, deram início a um processo de seleção objetivando o aprimoramento de características funcionais importantes para as condições de criação do Brasil e que resultasse em animais capazes de produzirem uma carne condizente com as novas tendências do mercado consumidor de carne bovina. E o que se procurou então? Um Charolês mais precoce sexualmente e acima de tudo, precoce em termos de deposição de gordura na carcaça (rápido acabamento), fator relevante para uma pecuária de ciclo mais curto.

Critérios como estrutura óssea adequada, menor tamanho do pelo, maior facilidade de parto, caráter mocho predominante e maior capacidade de produção de leite das mães, também passaram a receber mais atenção no aprimoramento da raça nas últimas décadas, sem deixar de lado a vocação natural do Charolês de apresentar velocidade de crescimento e ser ganhador de peso por excelência. Vale muito ressaltar, o enfoque atribuído à produção de animais prontos para o abate precocemente (dente de leite a dois dentes) com carcaças pesadas (acima de 240 Kg) e cobertura de gordura entre 3 a 10 mm, ou seja, com acabamento mediano a uniforme.

Este enfoque, justifica-se pelo fato de que a deposição da gordura de cobertura, que expressa o acabamento da carcaça, é extremamente importante para a indústria frigorífica para possibilitar a proteção da mesma contra a rápida e intensa queda de temperatura nas câmaras frias, que pode provocar o endurecimento (perda em maciez de até 5 vezes) e o escurecimento da carne em carcaças com acabamento escasso. Cabe lembrar, que além de favorecer a qualidade dos cortes na desossa, o acabamento de gordura da carcaça também é um critério utilizado para a remuneração aos produtores. Em síntese, o produtor que utiliza a genética do “moderno” Charolês brasileiro, pode potencializar sua lucratividade na pecuária de corte com a fornecimento de animais com maior peso ao abate, produtores de carcaças volumosas (com o já reconhecido rendimento) e com o acabamento de gordura que atende à demanda da indústria.

A busca por linhagens já existentes, com este perfil (como por exemplo, as norte-americanas), foi um dos caminhos para acelerar o processo, além do trabalho de muitos anos de seleção que vem sendo realizado dentro das propriedades. Em vista disso, chegamos já na década anterior com um Charolês evoluído em diversos aspectos, após um longo caminho percorrido com muita seriedade e planejamento. Com a implantação do Programa Carne Charolês Certificada em 2015, foi possível constatar na prática a evolução zootécnica da raça, evidenciada pela grande qualidade e quantidade de carne que seus exemplares puros e cruzados produzem. O comportamento do mercado e dos consumidores só confirmou a ótima aceitação do produto, comparável às melhores marcas de carne “premium” disponíveis no país. Destaque para a maciez e o sabor inigualável da carne produzida pelo Charolês.

Um trabalho de incentivo à realização das avaliações de carcaça por ultrassonografia pelos participantes do PROMEBO®, o programa de melhoramento genético oficial da raça no Brasil, vem sendo realizado pela ABCC junto à Associação Nacional de Criadores Herd Book Collares, com o propósito de impulsionar ainda mais este processo de aprimoramento da qualidade da carcaça “padrão Charolês”, uma vez que estas características possuem potencial de melhoramento genético em função dos valores médios a elevados de herdabilidade que apresentam.

A raça vai evoluir muito ainda, mas não há dúvidas neste momento, que a genética Charolesa disponível hoje no Brasil já é, sem dúvidas, adequada para os mais diversos sistemas de produção adotados no país, seja extensivo ou intensivo. A raça está pronta para contribuir, cada vez mais no desenvolvimento, produtividade e competitividade da pecuária de corte brasileira.

NÚMEROS DO PROGRAMA CARNE CHAROLÊS CERIFICADA (2015 a 2021)

01 – Animais analisados – 45.100 cabeças;
02 – Carcaças Cerificadas – 16.182 carcaças;
03 – Valores distribuídos aos produtores como Bonificação – R$ 3.083.611,22
04 – Pesos médios das carcaças cerificadas:
- Macho inteiro (Dente de Leite) – 282 Kg
- Machos Castrados (Dente de Leite a Dois Dentes) – 265 Kg
- Fêmeas (Dente de Leite a Dois Dentes) – 240 Kg

¹Eldomar Renato Kommers é Engenheiro Agrônomo, gerente do programa Carne Charolês Certificada e inspetor técnico.

²Nathã Carvalho é Zootecnista, Mestre em melhoramento genético animal e gerente de fomento da Associação Brasileira de Criadores de Charolês.



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